O site Nitnegócios está disponibilizando, desde 2009, poesias de autores nascidos e/ou radicados nesta Cidade, participantes da antologia ÁGUA ESCONDIDA, organizada por NEIDE BARROS RÊGO.

Em dezembro de 1994, ano em que a obra foi publicada, todos os 234 estavam vivos. Passados vinte e um anos, muitos dos poetas já se encantaram. Mesmo assim, suas produções, suas fotos e seus dados biográficos estão sendo divulgados.

Os 20 anos do lançamento de ÁGUA ESCONDIDA foram comemorados durante o ano de 2014, com a realização de vários recitais de poemas publicados na antologia. Continuamos homenageando, também, com recitais os poetas cujos centenários de nascimento estamos comemorando anualmente.

A poetisa Ednéa Turbae Fontoura (1935-2016) é a homenageada desta semana. Veja abaixo o seu poema e seus dados biográficos publicados na página 76 de Água Escondida. Conheça, também, os outros 155 autores homenageados pelo site Nitnegócios.

Mãe! Salvação da Humanidade!

Ednéa Turbae Fontoura

Este poema é teu, sábia mulher
Que se tornou incólume ao motim
Das pragmáticas
Fanáticas
De um falso mundo, afim,
De convenções quaisquer!

Eu te admiro autêntica, real,
Pura, mística, leal,
Amiga certa
Que na hora incerta
Nos faz reerguer
Com a nobre força espiritual,
Arremessando longe o que nos faz sofrer!

Tua presença alegra o meu viver!
E sinto-me feliz ao te fitar
Com teu semblante de perene paz.
Sofreste, eu sei,
E, crê, duvidei!
Porque teus olhos lacrimosos
Eu não vi, jamais!

Eu gosto do teu jeito de expressar
O teu afeto maternal:
– “Neste mundo, os filhos
Mais belos e perfeitos são os meus!”
Embora, muitas vezes, só a Deus
Vertas as lágrimas de um pranto infernal!

Eu te consagro, Mãe – “Paz do Universo”!
E te semeio no meu verso
Humilde e sem vaidade…
Invejo com ternura quem te tenha!
Mãe! Salvação da Humanidade!

Antologia Água Escondida (1994). Página: 76

*EDNÉA TURBAE FONTOURA (Magé, RJ). Professora. Participou do Projeto Manuel Bandeira, da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, de encontros poéticos e noites coletivas de autógrafos, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Publicou: Arandela, 1979; Passageiro do Tempo, 1981; Gente Pra Frente, 1984; Ainda é Primavera em Minha Vida, 1989.

POETAS JÁ HOMENAGEADOS PELO SITE NITNEGÓCIOS

Luís Antônio Pimentel (1912), César de Araújo (1943-2006), Abeylard Pereira Gomes (1914-1999), Marcos Almir Madeira (1916-2003), Edmo Rodrigues Lutterbach (1931-2011), Vilmar de Abreu Lassance (1915-2009), Alaôr Eduardo Scisínio (1927-1999), Nemécio Calazans (1918-2002), Neide Barros Rêgo (1938), Wanderlino Teixeira Leite Netto (1943), Luiz Simões (1927-1995), Armando Vaz Teixeira (1921-2007), Lizair Guarino (1930), Moacyr Sacramento (1945), Stelling (1960), Balbina Ferreira (1915), Angela Di Gemesio (1948), Antônio Soares (1933), Alda Corrêa Mendes Moreira (1926-2009), Geir Campos (1924-1999), Ricardo Fagundes (1946), Sergio Caldieri (1952), José Livio Dantas (1934- 2002), André Varella (1975), Gracinha Rego (1947), Paulo Roberto Cecchetti (1948), Aparecida Barreto (1935), Almanir Grego (1909-1997), Osvaldo Pires de Holanda (1921), Leda Mendes Jorge, (1938), Marly Prates (1934), Alcir Chácar (1933), Laudyr Neves Bruno (1928), Sália Véra (1938), Mário Monteiro (1907-2000), Marly Medalha (1934-2001), Geraldo Bezerra de Menezes (1915-2002), José Inaldo Alonso (1929), Áurea Maria (1922-2005), Neusa Peçanha (1935), Salammbô Pessoa (1919), Hermoclydes Siqueira Franco (1929), Sávio Soares de Sousa (1924), Sebastião Paulino Campelo (1944), Elenir Moreira Teixeira (1934), Ângelo Longo (1935-1997), Milton Nunes Loureiro (1923-2011), Miguel Coelho (1934-2007), Manita (1922-2011), Lyad de Almeida (1922-2000), Horácio Pacheco (1916-2005), Carlos Tortelly da Costa (1912-2003), Hulda Pinto Rabelo (1923), Beatriz Escórcio Chacon (1948), João Rodrigues de Oliveira (1911-1998), Hermes Santos (1934), Mariney K.R. (1945), Fernando Henriques-Gonçalves (1933), Franci M. Darigo (1939), Gilda Clarice Graça (1960), Fernanda Hermes da Fonseca (1936-2007), José Geraldo (1924-2010), Fanny Berta (1946), Ilka Matheus (1936), Véra de Beaurepaire-Rohan (1934), Maria Otília Marques Camillo (1933), Heloísa Siqueira Pacheco (1949), Maria Thereza Peçanha (1928-2011), Adelaide Rangel (1928), Maria Apparecida Picanço Goulart (1937), Maria Lucia Dutra (1979), José de Souza Soares (1939), Lucia Romeu (1946), Branca Eloysa (1935), Carmen Sülzer Brasil (1935), Luciene Sondermann (1964), Luiza Lagoas (1943), Gláucia Richa Teixeira Ananias (1959), Ayrton Pereira da Silva (1936), Henrique  G. de Serpa Pinto (1910-2006), Maria Regina Moura (1945), Mary Sommerfeld (1957), Gilberto Emílio Chaudon (1906-2002), Álvaro Faria (1914-2000), Marly G. Wisniowski (1934), Dom Carlos Alberto Navarro (1931-2003), Alberto Valle (1910-2011), José Eustáquio Cardoso (1946), Siléa Macieira (1962), Jayme Delamar (1935-2008), Wanderley Francisconi Mendes (1937), Izabel Ferreira de Abreu (1926), Heitor C. Cruz (1936), Ercules Lamego (1915-2011), Walma Lúcia (1961), Kelly Cristiny Sacramento (1983), Abrahim (1947), Carlos Gomes, Denize Cruz (1960), Cármine Antônio Savino Filho (1937), Hilton Vargas (1934-1995), Jurema Rosa (1925-1999), Adaltiva Amarante Simões (1925-2000), Reginaldo Baptista (1937), Jorge Tavares Vicente (1939), Luiz Zatar (1961), Aluysio da Silva (1929), Lucy Proença (1919-1999), Celso Furtado de Mendonça (1919-2003), Solane Carvalho (1962), Paula Rastelli (1928), Sílvio Lago (1909-1998), Ivan do Amaral Passos (1932), Irani de Araújo Alves (1935), Thereza Tinoco (1942), Henrique Augusto Chaudon (1955), Herval de Souza Tavares (1917-1997), Jayro José Xavier (1936), Lilian Rodrigues (1961), Luzia Sônia Picanço (1941), Luiz Fernando Santos Caldas (1979), Therezinha Fiuza Juliano (1934), Lia Vieira (1958), Yara Vidal Fonseca (1935), Vicente Cecchetti (1950), Fernando Elviro Costa (1922-2003), Judith Domingues Marés González (1930-2014), Flora Marins (1957), Bueno Mendonça (1925-1998) e Julieta Wendhausen de Carvalho Gomes (1913-2009), Leda de Oliveira Maia (1936), Andrade Silva (1933), Arakén Rego (1926), Jupyra de Souza Rodrigues (1922-1997), Lourival Almeida do Valle (1920-1995). Jane Góes, Ana Tatagiba, Alice Teixeira (1910), Celeste Yedda, Iza Quelhas (1955), Alice Teixeira, Claudia Castanheira (1962), Adelir Machado  (1928), Danilo Braga (1939), Fraya Hippert5 (1977), Rosa Maria Maia Feller (1959), Beatriz Cecchetti (1980), Adriana Engelbart (1973), Julia Carâp (1923-1997), Patrícia Blower (1957), Roberto Bento (1943), E.G. de Campos (1922-2015), Alberto de Souza Rocha  (1923-1998), Chermont (1930).

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LAURA, A VIZINHA

               Maria Helena Latini

Tinha aquele sorriso de banda
de Monalisa
Tudo nela indicava um mistério sério
Pálida, arredondada, parecia
não ousar uma gargalhada,
um grito ou um gesto extremado
Discreta, educada
nunca apresentou nada seu
parente, gato ou cão
Aquela vida contida
pesada e medida
implodiu silenciosa,
do seu feitio,
às três da tarde
As palavras, talvez a ira
e o medo
guardados para sempre
sob as mãos em cruz.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 171

*MARIA HELENA Lopes LATINI – Maria Helena Elle. (São Gonçalo, RJ, 30 jan. 1959). Trabalhos publicados em jornais e revistas do Rio de Janeiro, Niterói, Campos (RJ), Minas Gerais e na Revista Bollettario, Itália.  Menção Honrosa no Concurso Nacional de Minicontos, promovido pela Associação de Escritores de Bragança Paulista (SP), 1994. Autora de: Roteiros de Vida, 1991, poesia; Ângela e Antônio, 1992, prosa e poesia, e Diário em Quadrinhos, prosa, inédito.

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Fugaz

             Chermont

Voas sem ter destino

Procurando o que não vem

Tocas no meu abismo

Por sonhos que ninguém tem

Esperas tranquilo o não-ser

E tentas vencer o ocaso

Surgindo em leves formas

A brisa do teu fracasso

Em trocas e em deleites

Continuas caminhando

Ora corres ora voas

Sem retorno nem chegada

Procuras fim sem princípio

Não te deixas ser tocado

Passas por entre espinhos

Sem pensar no teu passado.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 64

*Maria de Lourdes Soares Marcos CHERMONT — Malou. (Niterói, RJ, 4 jun. 1930). Formada em Direito pela Universidade Estácio de Sá e licenciada em Letras e Pedagogia, com pós-graduação em Letras, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Figura, ao lado das escritoras Inês Diniz, Edwiges Zaccour, Denize Diniz, Darcilia Simões e Ana Maria Caldeira, na antologia poéticaFragmentos de Nós, 1988.

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Pela Fé

Alberto de Souza Rocha

Eis o esquema da vida: a luta, as intempéries,
Seguindo das provações o curso, em várias séries,
Nos desvãos onde há sempre as pedras e os espinhos
No roteiro fatal de todos os caminhos…
Como não ser assim, irmãos da mesma fé,
No exemplo que nos deu Jesus de Nazaré?
Jesus passou na Terra, assaz incompreendido,
Nem por isso, ainda hoje, o mundo está perdido.

A Fé, chama divina, amigos, preservai-a
Para as obras do Bem que a alma cristã ensaia:
Há tanto que fazer, tanta lágrima triste,
Tanto véu a rasgar por este mundo existe,
Pedindo seja um pão, um sorriso, uma prece,
O expressivo socorro ao irmão que padece,
O livro, o exemplo, a esmola, o verbo que ilumina,
O trabalho fecundo em qualquer oficina…

A Fé guardai então por este mundo afora,
Nas obras, bendizei-a em cada nova aurora,
Ressurretos do caos da pobre humanidade,
Vencendo intimamente a mazela e a maldade
Como o arbusto do chão que cresce verdejante,
Soerguendo a ramada a cada novo instante!

Aguardai mais além: vencendo a cruz da estrada,
Enchei de amor-perdão as dores da jornada
E tereis afinal, empós a tumba fria,
As doces emoções mais puras da alegria!
………………………………………………………..
É da lei natural: o frio sempre impera
Antes que venha a nós a doce primavera!

Antologia Água Escondida (1994). Página: 22

*ALBERTO DE SOUZA ROCHA (Campos dos Goitacases, RJ, 30 jul. 1923). Médico formado pela antiga Faculdade Fluminense de Medicina, 1950. Escreve poesia desde muito jovem, tendo publicado algumas. Milita no movimento espírita, especialmente no campo do jornalismo. Publicou alguns livros doutrinários.

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A Montanha e a Nuvem

        Roberto Bento

Olho ao longe a montanha, tão distante…
Azulando no ar, em fantasia,
É uma ilusão, eu sei, mas que alegria
Me chega desse espaço neste instante.

Vejo a nuvem passando, navegante
De um céu também azul, em companhia
Do vento que a corteja e acaricia
Com atenções de um dedicado amante.

Montanha e nuvem – terra e eternidade.
Dois momentos da mesma eternidade
Desta tarde de outono que se esvai…

A paz toma o meu corpo em seu regaço,
E a alma livre, enquanto dura o abraço,
Atrás de nuvens e montanhas, vai…

Antologia Água Escondida (1994). Página: 216

*ROBERTO BENTO (Bom Jesus do Norte, ES, 4 maio 1943). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da antiga Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, em 1960. Funcionário do Banco do Brasil. Premiado em certames poéticos. No prelo, Espelhos, poesia.

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Ode a Uma Saudade

Adriana Engelbart

Ah, que da beleza desse amor profano,
nasce a loucura por tanto querer-te!
Cala-me entre espaços de carinhos,
surge desejo pomposo,
célebre, real.
Arruína-me e, no compasso, ensoberbece.
A tua ternura ingrata
meteu-me numa incógnita – tão louca
incógnita! –
que me faz cantar a esmo,
cerra-me os dentes, molha-me os poros…
Se és inesperado… imenso
e vasto amor,
te quero saber em meus braços,
em longas (infindas) esperas.
Tu me deixaste as nódoas… sequelas
de abraços imensos, ternos e internos.
E, agora, me faltas,
deixando-me esmaecer
no ermo da noite vazia.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 19

*ADRIANA ENGELBART (Niterói, RJ, 11 out. 1973). Universitária em Comunicação Social. Formada em Alemão e Inglês. Participou do II Encontro de Poetas da Universidade Federal Fluminense e da Agenda Poética ANE/94, organizada pela Associação Niteroiense de Escritores, da qual faz parte.

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Coração de pedra
Beatriz Cecchetti

Hoje eu vi o amor
nascer por trás das pedras
do Arpoador,
iluminando o dia
com seus raios,
alegria,
com seu esplendor,
beleza.
Do outro lado da pedra,
tristeza.

Passa o dia,
acaba a alegria,
escurece a noite.
Hoje eu vejo o amor
morrer,
por trás das pedras
do Arpoador.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 51

*BEATRIZ CECCHETTI (Niterói, RJ, 6 maio 1980). Estudante. Poesias publicadas no jornal O Cais, de circulação nas praias oceânicas de Niterói e em coletâneas escolares.

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Maternidade

Rosa Maria Maia Feller

Ser mãe é diluir em si
A vontade do apego do mundo,
É exceder a Vontade ao fundo,
É padecer com ouvidos fecundos.
É conhecer a vida afastada,
Entregá-la à descendência,
Elevar-se à transcendência
Do pertencer, ser ou sentir…

É anular-se para não medir
As cordas da redenção,
É entender sem razão,
Enxergar com a consciência em vão.

Ser mãe é aprontar
Em espaços pequenos da vida,
Orientar, sem medidas,
As necessidades do filho-irmão,
Transcendendo a razão.

Ser mãe é ter aparência qualquer
No olhar de quem quiser,
Repetindo a tabuada e a gramática
Que o mundo não ensina sequer
Com a mácula da mulher.

Ser mãe é ser irmã,
Antes de pensar em parir,
Pois os laços que o sangue ressalva
Sem exigir da própria alma,
Ser mãe é ter o poder de partir.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 217

*ROSA MARIA MAIA FELLER – Alpha Magna. (Niterói, RJ, 10 jun. 1959). Professora, filósofa, dramaturga, conferencista, cantora lírica, pintora e poeta premiada. Publicou: Transcendendo a Razão, 1985; Fortaleza Santa Cruz, o Patrimônio do Brasil, 1991, poesia; A Fagulha Divina, 1982; Em coautoria com Sebastião Carvalho, Neo Liber Legis, 1983. Autora de peças teatrais.

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Adolessentimento
Fraya Hippertt

Queria beber…desmaiar…
Queria me fazer de coitada!
Não posso!… Tenho que ser forte,
não quero que tenhas compaixão…
Quero sentimentos reais,
quero atos reais, fatos reais!
Quero a verdade!…
Queria sumir!… não pensar em mais nada.

Quero amor de verdade! Não quero nada falso!…
Os “burros” devem ser felizes
pois não têm que pensar em nada.
Queria ser “burra”,
mas tenho que ser forte e lúcida!

Preciso de força! Não quero pedir a ninguém.
Preciso ser ajudada,
mas não quero pedir ajuda.
Quero que tenha sido de verdade
e não quero a verdade, porque dói…

Não quero sofrer!
Não quero chorar!
Quero apenas saber.
E quero não fazer parte do mundo,
porque não quero te ouvir dizer:
Não te amo, sinto muito!…

Antologia Água Escondida (1994). Página: 94

*FRAYA Bateman HIPPERTT Hatje (Niterói, RJ, 28 out. 1977). Estudante. Cursa Teatro no Tablado, no Rio de Janeiro e Arte de Dizer no Curso Maria Sabina, em Niterói. Aos 15 anos, ganhou seu primeiro prêmio literário no Festival de Poesia do Curso Acadêmico. Em 1993, obteve o prêmio de Melhor Intérprete no II Festival Pinguim de Poesia. Premiada no 1º Icaraí Fest Poesia, em 1994. Integrou o coral do Centro Educacional de Niterói.

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Um pouco mais

Danilo Braga

Não que eu esperasse mais de você,
Afinal, era bem pouco o que eu podia dar,
Mas sua renúncia, confesso, me deixou sem chão.

Não que eu esperasse mais de você,
Eu não tinha como exigir ou protestar,
Tinha sim que calar meu pranto pra não chorar em vão.

Não que eu esperasse mais de você,
Mas o silêncio que me envolve grita mais alto que eu,
E à necessidade de falar sozinho,
Respondo com um verso meu.

Não que eu esperasse mais de você,
Mas o romper de uma amizade forte
Traz sempre um vazio imenso,
Traz sempre um sabor de morte.

Não que eu esperasse mais de você,
Mas sinto-me qual nave a despedir-se do cais.
Não que eu esperasse tudo de você.
Mas bem que me poderia ter amado um pouco mais.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 69

*DANILO BRAGA Coelho (Itaocara, RJ, 13 out. 1939). Formado em Administração de Empresas e Jornalismo. Compositor, participou e foi vencedor de diversos festivais de música nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Premiado no I Concurso de Poesia patrocinado pela Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro. Assinou, durante muitos anos, a coluna Tempo de Som, no Jornal de Icaraí.

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Rótulo

Adelir Machado
Quando a tempestade do meu corpo
já tiver se acalmado,
restando apenas, em um copo,
o último pingo d’água
como sinal de vida,
o transformarei em colírio,
molharei meus olhos;
examinarei bem de perto
a ferrugem da corrente que atou meus sonhos
elo por elo.
E se encontrar, no meu subconsciente,
uma luz do que poderia ter sido,
rasgarei a distância,
deixarei que as árvores caídas
sejam as únicas testemunhas
da fidelidade que rotula
a certeza do meu EU.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 18

*ADELIR Coelho MACHADO (São Gonçalo, RJ, 17 fev. 1928). Professora, bibliotecária. Formada em Literatura Africana na Língua Portuguesa pela Academia Brasileira de Letras. Das Academias: Brasileira de Trova, Pan-Americana de Letras e Artes, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes, União Brasileira de Trovadores e outras. Participou de várias antologias. Autora de diversos livros inéditos de poemas, crônicas, contos e cordéis. Recebeu mais de seiscentos prêmios literários.

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Ideia

Cláudia Castanheira

Meus dedos reféns
de duas mãos suadas
após o embate incontrolável:
pernas, pelves, peles ávidas

Com-fusão de tantos medos
em gemidos guturais
transcorridos transversos
entre versos abissais

Poema-olhar abortado:
a paixão mal concebida
emigrada simultânea
de inquietude transida

Poema-ardil, armadilha
do desencontro. O limite.
– ‘té um dia, companheiro!
acho que esse homem
nem existe…

Antologia Água Escondida (1994). Página: 65

*CLÁUDIA Silva CASTANHEIRA (Niterói, RJ, 21 mar. 1962). Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Cursa o mestrado em Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Prêmio de edição nas antologias: Mil Poetas Brasileiros, 1989 (RS); Contos e Poemas do Brasil, 1990 (RJ); O Amor na Literatura, 1994 (RJ). Participou da antologia Língua Solta – Poetas Brasileiras dos Anos 90, 1994 (RJ). Recebeu Menção Especial no concurso Jorge Fernandes de Poesias, RJ, 1990, pelo livro Muito Além Disso, inédito.

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Fragmentos de Insônia

Iza Quelhas

À noite, não dormi, meu amor, pensando em ti.
Mutilei o teu corpo em lembranças, até que um
jabuti desenhou o teu rosto com uma palheta
de giz na madrugada.
Teu rosto girava em mim,
bússola de seta errante, alheia à gravidade.
(Enquanto isso, a Lua trazia as tuas mãos até meus seios).
À noite, não dormi. Confúcio dizia
algo e não havia discípulo.
Fui à China, antes que a fogueira
do tempo erguesse um muro entre nós.
Senti nos dedos uma friagem e
quase ópio de mim
vi-te inscrito entre cílios e crianças.
(Fui desenhar o trajeto de alguma bala perdida ao sul do Equador.)
Assim, fiz o teu rosto com fios de cera
e grãos de areia.
Talvez, na infinitude do tempo, alguém reconheça nesse rosto,
moldado também pelo vento,
o desespero de um momento desamparado de mim.
Acesos todos os lençóis que havia,
prendi-os aos ombros, longas tranças,
frágeis de altura e ventania.

A noite subia lenta. Na terra de Palmares, nada mais ardia,
além das velas na praia.
Escorreguei num barco sem sossego, apesar da noite exigir
apenas madressilvas e jasmins.
Os corpos debruçaram-se sobre esta folha,
navio de escravos em desterro.
Mas essa noite, meu amor, eu não dormi,
porque estou tão longe de ti.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 120

*IZA Terezinha Gonçalves QUELHAS (São Gonçalo, RJ, 24 ago. 1955). Professora de Literatura formada pela Universidade Federal Fluminense. Pós-graduada em Literaturas Africanas (Portugal). Mestre e doutoranda em Teoria Literária, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalha na Editora da Universidade Federal Fluminense. Lecionou Teoria Literária no mestrado em Letras da Universidade Federal de Alagoas. Orienta oficina de Redação e Literatura. No prelo: A passagem dos sinais, poesia; e Crianças Afagadas, pequenas histórias vividas num subúrbio.

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Solidão

Celeste Yedda

Havia sol em meu EU, sol radioso,
Brilhante, quente, vida transbordando,
Um sol de inverno embora, ainda teimoso,
Neves do tempo, dissipar tentando.
Havia sol em mim e no caminho
Povoado de jovens ardorosos,
Sonhava, sequiosa de carinho,
Com oásis de sombras amorosas.
Havia… e há, numa constante louca,
Sede de amor, em avidez, na boca,
Lábios que à míngua morrem, ressequidos.
Ânsia de fuga ao mundo, em retrocesso,
Busca do que se foi, num insucesso.
Verão interior, inverno externo,
Notas de amor esparsas no caderno
Que o calendário d’alma registrou.
Reacende-se a chama esmaecida,
Há luz, calor, há vibração, há vida,
Ante o fulgor da tua mocidade,
Mas tudo em vão… sufoco a ansiedade,
Olho o espelho e medito: é muito tarde,
Que adianta pulsar o coração?
Na face, sulcos cortam qual espinhos,
Flores murcham, vazios são os ninhos,
É o inverno da vida: é a solidão!

Antologia Água Escondida (1994). Página: 60

*CELESTE YEDDA de Faria Pinto (Rio de Janeiro, RJ). Professora. Obteve 1º lugar em concursos de poesia: Clube Ideal, da Terceira Idade, 1991 e Faculdade Maria Teresa, de Niterói, 1993. Alguns de seus contos foram publicados na revista Alterosa, de Belo Horizonte (MG). Autora do livro de poesia Exaltação, 1980.

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Teu Olhar

Alice Teixeira

Há, nos teus olhos azuis, imaculados,
Um oásis de calma prometida
Onde meus olhos, ansiosos e cansados,
Buscam o alento e a sombra apetecida.

Em teus cílios sedosos e arqueados,
Tão doce paz encontro ali, querida,
Que julgo estar nos céus mais estrelados,
e esqueço o mal, a dor e a própria vida.

Esqueço toda a mágoa que crucia
Como acerada seta venenosa,
No teu olhar sublime que inebria.

E esse encanto, e essa graça que irradia,
Só vi igual, assim, maravilhosa,
No casto olhar dos olhos de Maria!

Antologia Água Escondida (1994). Página: 27

*ALICE Barbosa Guimarães TEIXEIRA (Curitiba, PR, 27 nov. 1910). Radicada em Niterói desde 1911. Publicou Seixos Rolados, 1990, um apanhado de sua produção literária, que teve início em 1940.

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Êxtase

Ana Tatagiba

Quero ser amada,
tocada, desejada,
bajulada, mimada e,
acima de tudo, respeitada.
Quero sentir o cheiro
desse amor na pele,
fluindo no ar.

Quero ser amada e saciada
nas areias do mar,
para que a natureza presencie
o encontro de dois seres
no abismo do amor.

Amor, que nem sempre é para sempre,
mas em que acreditamos
no momento de êxtase.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 32

*ANA Nilce Pessanha TATAGIBA (Rio de Janeiro, RJ). Pedagoga e artista plástica: desenho artístico e pintura em porcelana, com diversas exposições no Rio de Janeiro e Niterói. Premiada em concursos de poesia: da Fundação Mokiti Okada, promovido pela Igreja Messiânica Mundial – Núcleo de São Gonçalo (RJ); do Espaço Cultural José Prates, em Niterói, e Brasil dos Reis, promovido pelo Ateneu Angrense de Letras e Artes, 1994. Participa da Oficina Literária Neusa Peçanha.

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GAROTO XIS

Frio
Vento
Chuva…
E o garoto na rua…

Fome
Sede
Solidão…
E o garoto na rua…

Briga
Desabrigo
Frustração…
E o garoto na rua…

Saudade ( ? )
do vazio
pensamento neutro…
E o garoto na rua…

Um tiro no escuro
e um corpo tombado no chão…
Um túmulo
num espaço qualquer.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 124

*JANE GÓES Violante (Niterói, RJ). Professora aposentada. Estudou Piano, Balé e Inglês. Faz parte da Associação Niteroiense de Escritores e do Grupo Mônaco de Cultura. Participou das coletâneas: Antologia Poética do Clube do Escritor de São Paulo, 1986; Poesia & Cia, 1986. Publicou:Nuances, 1992, poesia. Trabalhos publicados em jornais de Maringá (PR) e de Niterói.

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DE PUNHOS CERRADOS

Lourival Almeida do Valle

Muitas vezes meti as mãos nos bolsos
para ninguém ver os meus punhos cerrados.
Muitas vezes baixei a cabeça
para ninguém ver o disco de Newton no meu rosto.
Muitas vezes trinquei os dentes
para ninguém ouvir o meu sangue latejar.
Muitas vezes as montanhas oscilaram diante dos meus olhos
e o mar virou monstruosa poça de sangue
e o sol incendiou a mecha das nuvens.
Tudo isso porque eu tinha os punhos cerrados
e a voz embargada.
Mas ninguém soube que eu tinha bílis no sangue
e que meus cabelos branquearam.
Ninguém gozou o meu desespero.
Mesmo depois de morto ficarei com os punhos cerrados.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 152

*LOURIVAL ALMEIDA DO VALLE (Maricá, RJ, 16 jun. 1920). Engenheiro civil formado pela antiga Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil. Chargista. Poesias na Antologia da Moderna Poesia Brasileira, de J. G. de Araújo Jorge. Figura na Paisagem Fluminense, de Jacy Pacheco. Trabalhos publicados em revistas e jornais do Estado do Rio de Janeiro. Seu poema Natal, traduzido, foi publicado na Alemanha. Autor do livro de poesias Canto Adverso, inédito.

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Yamato

Jupyra de Souza Rodrigues

Saudade dos mares distantes,
das gaivotas partindo
em busca de outros ninhos,
ou mesmo do que não sei…
São lembranças do meu tempo de menino!

E nas tardes crepusculares,
nos troncos jogados à praia
esperava os barcos pesqueiros,
a se confundirem
na paisagem marinha,
voltando,
fugindo, fugindo da noite!

Nenhum pio na amplidão
já se ouvia.
Só ecoava meu pranto
então,
a evocar as terras de Pequim!

Eram saudades dos mares distantes,
das horas primaveris,
à sombra dos pessegueiros em flor
vendo as mulheres passando
no ruge-ruge de sedas
e o vento as saias levando…

Antologia Água Escondida (1994). Página: 139

*JUPYRA DE SOUZA RODRIGUES (Campos dos Goitacases, RJ, 28 nov. 1922). Formada em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e, em Francês, pelo Curso Ítala Torres, Campos (RJ). Funcionária estadual, aposentada. Diversos cursos relativos às suas atividades. Tradutora, com alguns contos nos jornais: Contracheque, da Secretaria Estadual de Fazenda, e O Monitor Campista. Publicou No azul da hora que passa, 1964, poesia.

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Apenas Nós

Arakén Rego

Somos só nós dois apenas
Mas há penas entre nós
Se são leves como penas
Também se enrolam em nós

Em nós que não se apertam
Porque a nós isso dá pena
Porque há penas que se acertam
Sem que a nós isso dê pena

Se falo de nós e penas
Apenas falo de nós
De nossas pequenas penas
Que se enrolam como nós

Mas pequenos são os nós
De nossas pequenas penas
E pensando bem em nós
Nada disso vale a pena.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 44

*ARAKÉN da Silva REGO * Máximus Léo. (Rio de Janeiro, RJ, 6 fev. 1926). Advogado, odontólogo, auditor do Ministério da Fazenda, aposentado. Da diretoria da Associação Niteroiense de Escritores. Participou do I e do II Festival Pingüim de Poesia, com premiações. Colaborou nas revistas Fauna e High Sport, com artigos esportivos. Publicou: O Homem do Futuro e outros contos, 1990; A Viúva Negra e outros escritos, 1993. No prelo, Feitiço, romance.

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Floração-Mulher

Andrade Silva

Há sempre uma flor em cada boca de mulher.
Uma rosa, um cravo, um beijo.
Uma saudade, um girassol, desejo.
Há sempre uma flor em seus lábios de carmim.
Uma que nasce em cada mãe quando nascemos;
Uma que murcha em cada amor que se desfaz;
Uma que morre em seu olhar quando morremos.

Há uma flor que nasce, murcha, morre cada dia…

Jardim imenso são os lábios da mulher.
Produz flores inúmeras que se vão;
Só uma dentre tantas é colhida;
Só uma ela dá de coração:

O beijo…
Que aproxima, que dá vida,
Sucessão.

Esta sim, é flor e pão.
Há uma flor em cada boca de mulher.
Há um jardim em cada par de lábios lindos.
Há uma flor que orna o berço;
Outra que orna o caixão:
… Sorriso
… Soluço…

Antologia Água Escondida (1994). Página: 33

*ANDRADE SILVA — José da Silva Dias (Lagarto, SE, 14 fev. 1933). Formação sacerdotal com maior tempo no Seminário São José do Rio Comprido, do Rio de Janeiro, onde estudou durante onze anos. Ordenado Presbítero em 29 de dezembro de 1970 * Seminário São José de Niterói, pelo Arcebispo de Niterói, D. Antonio de Almeida Morais Júnior. Tem dois livros inéditos: Poemas de Natal e Poemas da Vida.

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Dedicatória

Lêda de Oliveira Maia

E para o resto da vida
seremos irmãs,
irmãs amigas.
Tu, a borboleta.
Eu, o girassol.

E para o resto da vida
seremos irmãs,
irmãs amigas.
Tu, a tarde calma, suave,
afagada pela brisa.
Eu, o dia alegre, quente,
beijado pelo sol.

E para o resto da vida
seremos irmãs,
irmãs amigas.
Tu, o poeta,
grande em seus versos,
matizando a vida
com seus contos infantis.
Eu, a plateia,
sempre atenta,
para de pé
te aplaudir.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 144

*LÊDA DE OLIVEIRA MAIA (Niterói, RJ). Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Professora de Direito Usual e Legislação Aplicada. Formada em Inglês pela Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa. Participa da Oficina Literária Neusa Peçanha. Da Associação Niteroiense de Escritores.

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A Flor e o Verso

Julieta Wendhausen de Carvalho Gomes

O verso surge
Como a flor
Que se abre
Para o céu…

A flor espalha o perfume,
O verso reflete o amor;
A flor tem cores diversas,
O verso tem várias formas;
A flor adorna o altar,
O verso embeleza a canção;
A flor é flor e presente,
O verso é verso e oferenda;
A flor se eleva da terra;
O verso, do coração;
A flor se toma nas mãos,
O verso se prende aos lábios;
A flor pode ser mensagem,
O verso é sempre linguagem;
A flor abranda o olhar,
O verso enternece a alma…

Porém, se a flor dura pouco
E o verso se perpetua,
A flor jamais morrerá,
Ou perderá seu encanto,
Se louvada for, no verso,
Por quem saiba amar a flor.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 138

*JULIETA WENDHAUSEN DE CARVALHO GOMES (Curitiba, PR). Professora. Bacharel em Direito pela Faculdade Nacional. Da Academia Teresopolitana de Letras. Publicou: A Flor e o Verso; De Sol a Sol; Nas Asas do Pensamento; Poesia e Eternidade; Mensagem às Crianças do Mundo Inteiro, poesia. Escreveu, com a professora Zezinha Nunes, o livro Arte e Técnica em Decoração.

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VENTO TRAVESSO
J. F. Bueno Mendonça

Dobrando a esquina
o vento chegou
erguendo,
da rapariga esquecida,
a saia rodada.
Agitou,
com carinho,
a mecha grisalha
do cabelo da velha
e,
em rodopios,
desfez o monte de folhas,
atirando um cisco
no olho do negro…

A gargalhar se foi
por entre as ramagens.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 122

*José Francisco BUENO MENDONÇA de Azevedo (Niterói, RJ, 17 maio 1925). Contabilista, professor, orientador pedagógico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Participou do Grêmio Literário Humberto de Campos, sendo atualmente do Grupo Mônaco de Cultura. Colaboração literária em jornais e revistas do Rio de Janeiro e Niterói. Foi coproprietário do semanário Manchete Fluminense. Publicou: Simplesmente Folhas, 1978, poesia; Que pena, Joaninha, 1986, contos. É verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho.

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CHUVA

Flora Marins

Pingo que cai em minha face
me acompanha no asfalto
e no abrigo da árvore
Embaixo da marquise
posso vê-lo escorregar do céu
abrir a mão e fazê-lo meu

Janela aberta, nuvem voando
pássaro no ninho
arco-íris me guiando
Gotas brilhantes deslizam
em meus cabelos, trazendo
pensamentos delirantes:

Você, de roupa molhada
me pegando no colo
me beijando os olhos
O vento murmura
canções de amor
sinto-me grande e pura

Ando solta ao relento…
Não resisto à grama úmida
Deixo-me cair
Você vem logo atrás
deitamos e nos beijamos
num suspiro de paz

Mãos… braços e gotas
alisam meu corpo nu
Eu e você somos um
A chuva, com ardor
se mistura aos nossos corpos
suados e molhados…
de tanto amor.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 92

*FLORA MARINS — Maria Fátima Leite Cinelli (Rio de Janeiro, RJ, 6 abr. 1957). Bancária, contista. Bacharel em Comunicação Social. Durante o curso, participou do jornal da Faculdade de Comunicação da Sociedade Universitária Augusto da Motta, desde a sua elaboração até a distribuição das edições. Coordenadora do Espaço Cultural Banco do Brasil – Agência Icaraí. Atualmente escreve para a Revista da Associação Atlética do Banco do Brasil.

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Naufrágio

Judith Domingues Marés González

Espreitas
e decifras
o enigma
das madrugadas;
a luz dos círios
sobrevive
à custa
de teus vitrais floridos.

És o gume da faca
que corta o pão
pro peregrino.

Firmas
os passos do ateu.

Semeias os trigais
de amarela alegria.

Soçobras
no delírio
de tua mão errante.

Antologia Água Escondida (1994). Página: 136

*JUDITH DOMINGUES MARÉS GONZÁLEZ (Rio de Janeiro, RJ). Professora, licenciada em Letras Neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e em Letras Clássicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Poeta premiada com a 1ª Menção Honrosa no II Concurso de Poesias ANE/ 1990 Cem anos de Oswald de Andrade e, com o 3º lugar, no Concurso de Poesia da Arte & Lazer, 1991; 1º lugar no Concurso de Poesia Mário Quintana, 1994, promovido pela Associação Niteroiense de Escritores.

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