Na coletânea de contos, que será lançada no dia 27/11, na Sala Carlos Couto, o jornalista Sérgio Tavares, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura, aborda, com prova vigorosa, relações interpessoais corrompidas pela ausência e pela passagem do tempo.

A vida é uma estrada. O que define sua extensão e duração são as escolhas e as tragédias. Em “Queda da Própria Altura”, segundo livro do jornalista niteroiense Sérgio Tavares, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura – Categoria Contos, com “Cavala” (2010), há uma sensação permanente de desmoronamento. Nos oito contos que compõem a antologia, personagens frágeis e atormentados buscam, inutilmente, compreender rupturas inesperadas e afastar desejos incontroláveis, que levam ao desaparecimento ou à suspensão no tempo.

Carregada de referências próprias do autor, a obra, editada pela Confraria do Vento, consolida Tavares como um dos grandes narradores de sua geração, capaz de construir um labirinto de tramas, onde a prosa fluente e sutil esconde o inesperado nocaute. O livro é dividido em três capítulos: Impulso, Voo e Queda. A primeira parte tem início com “Evolam-se os Barcos”, na qual um homem, que sempre encontrou prazer no isolamento e na introspecção, não consegue evitar o gradual desaparecimento na relação familiar, até participar de um encontro casual e redentor.

Em “Ofélia”, os conflitos internos de um jovem, preso a uma hierarquia imutável de pais e filhos, desvendam, na decisão da irmã caçula, o absurdo da situação de uma cidadela que se enterra a cada passagem assombrada de tempo. Já “Sono” é uma queda vertiginosa, uma tentativa visceral de compreender uma perda aterrorizante.

“Hera”, que inaugura a segunda parte, é uma narrativa maior, que se aproxima do formato de uma novela com nuances fantásticas, onde um jovem, que mora com a mãe doente, desenvolve desejos irreprimíveis pela nova vizinha, uma mulher atraente e misteriosa que esconde um propósito que o confinará num estado de suspensão, numa zona destituída da estrutura convencional do tempo. “Cerimônia” traz o relato comovente de uma mãe que prepara os trajes do filho para um importante acontecimento. “Umbrais” e “Quebranto”, que fecham a terceira parte, retratam a perda e a desilusão de forma onírica, mostrando personagens que se descobrem a partir do mergulho no desconhecido.

Todos os capítulos são antecipados por mínimos prelúdios, curtos relatos que funcionam como fio condutor de toda a trama, proporcionando, ao fim da leitura, uma sensação de completude semelhante a de um romance. Com a mesma potência criativa premiada em “Cavala”, Tavares hipnotiza o leitor com histórias que fascinam e espantam ao mesmo tempo, deslocando-o para uma queda livre e intoxicante. Como bem escreveu a escritora Lucia Bettencourt: “Um mergulho para o nada, em nossa própria imaginação”.

Trecho extraído do conto “Hera”:
“depois de muito tempo afastado de uma pessoa, é inevitável ter tanta coisa para falar e sentir, mas, agora, eu não queria sentir ou falar nada. passaram muitos anos e, em mim, é como se tivessem passado ainda mais. sou um velho aos olhos do mundo, não posso me entregar ao ímpeto de um jovem. talvez eu quisesse, não sei, talvez, se eu pudesse sentir, eu quisesse me aproximar e olhar nos olhos dele e dizer, apenas dizer, pai, este sou eu. talvez eu quisesse abraçá-lo também, saber o que se passou nesses anos de privação, descobrir no que somos iguais, no que herdei de errado e de certo. talvez eu quisesse levantá-lo e lhe perguntar onde dói, se suas feridas deixaram marcas ou apenas dói por dentro, como em mim. talvez eu contasse da mãe e o indagaria se era feio um homem chorar, pois ele era homem e eu sempre seria um menino, sem pai, sem entender por que o tempo nos faz homens para depois nos tornar meninos novamente. talvez eu quisesse entender a vida ou apenas ouvi-lo me chamar de filho”.

Trecho extraído da orelha do livro:
“O autor confirma seu talento e alça seu voo nesta nova experiência literária. Elaborando em cenas os estereótipos que nos destroem e os silêncios que nos asfixiam até provocar o câncer que nos impede de seguir nesta viagem a um lugar desconhecido, sem ponto de chegada ou sequer de partida, ele nos convida a embarcar nas asas de sua imaginação e nos deixa planando num universo paralelo e fantasmagórico que aprendemos a reconhecer (e repudiar) como exemplo de vida”.  Lucia Bettencourt é autora de “O Amor Acontece: Um Romance em Veneza” e “A Secretária de Borges”, entre outros.

Biografia:
Jornalista e escritor, autor de “Queda Própria Altura” (Confraria do Vento/2012) e “Cavala” (Record/2010), vencedor do Prêmio Sesc Nacional de Literatura – Categoria Contos. Também foi premiado no Concurso Literário da Fundação Escola do Serviço Público (Fesp-RJ/2005) e tem textos publicados, entre outros, nas revistas Cult e Arte e Letra: Estórias # M, e no jornal Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná. Nasceu em 1978, mora em Niterói/RJ e edita o blog infinitoconveniente.blogspot.com.

Serviço:

  • “Queda da Própria Altura”, lançamento do livro e noite de autógrafos
  • Dia: 27 de novembro – Terça-feira
  • Hora: a partir das 20h.
  • Local: Sala Carlos Couto, anexo do Teatro Municipal de Niterói
  • Endereço: Rua XV de Novembro, 35 – Centro – Niterói
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