O Livro Geografia da Música Carioca será lançado em 09 de abril, na Sala Carlos Couto, anexo ao Teatro Municipal de Niterói. Neste livro, os autores João Carino e Diogo Cunha passeiam pela história da música carioca do choro ao funk.
Escrito pelo produtor João Carino e pelo pesquisador Diogo Cunha, com patrocínio da Imprensa Oficial, GEOGRAFIA DA MÚSICA CARIOCA (Muriqui Livros) será lançado no dia 9 de abril, das 19h às 22h, com direito a uma roda de Choro, na Sala Carlos Couto, no Teatro Municipal de Niterói.
Ao longo de 314 páginas, a dupla faz um giro pela cena musical carioca, através de movimentos e personagens de destaque. Eles também trazem novidades à história. Você sabia que “Pelo telefone” não foi o primeiro samba a ser gravado, em 1915, como reza a lenda? E que o gênero que embala os nossos Carnavais é muito mais uma herança indígena do que negreira?
O livro começa ao som dos índios dançando e batendo tambor, nossos primeiros caciques de Ramos, e desce até o rebolado sensual do baile funk. Existe esperança para a música nascida em solo carioca? Os autores apostam que sim! A prova são os versos de Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc e Moacyr Luz: “Brasil tira as flechas do peito do meu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro ainda pode se salvar”. A seguir, um apanhado que Carino (em sua estreia na escrita) e Diogo (co-autor de três livros com André Diniz) fizeram sobre este novíssimo GEOGRAFIA DA MÚSICA CARIOCA:
Quando a flecha Tubinambá rasga o céu e o olho de Estácio de Sá, os caciques do samba de partido alto, ao som do tamboril e das maracas, interrompem seu ritual antropofágico e libertam seus prisioneiros para caírem na folia.
No Carnaval, quando o entrudo com suas imundícies corre solto pela Praça XV e Avenida Central, o imperador – que também adora brincar de jogar água nos outros – foge da polícia e acaba se escondendo nos jardins do Palácio do Catete. Dona Nair de Teffé coloca o violão de lado e, atônita, convida sua majestade – que está todo encharcado – para ouvir o corta-jaca de Chiquinha Gonzaga, que é da lira, não se pode negar.
Donga, que acaba de roletar na Carioca, ao lado do presidente do Pragas do Egito, o carteiro Alexandre, também conhecido como Animal, enche a cara de vinho do Porto na casa da Tia Ciata. Lá o comes e bebes é farto e o gato não dorme em cima do fogão.
Na estação Cidade Nova do choro, o passaporte é carimbado com destino a Paris. Entre um cancan e outro, o dentista e dançarino Duque inicia seu bailado, no puladinho e no cruzado, e ao som de Pixinguinha e seus Oito Batutas (que, na verdade, são sete), apresenta a libidinosa dança do maxixe, que acaba virando moda na Europa. Na volta, o desembarque é ao lado de Ismael Silva e Cartola. O traslado inclui “Estácio, Salgueiro, Mangueira” e a Vila “que não quer abafar ninguém”. O bonde segue seu destino levando mais um operário. No taioba, o Barão de Drummond, descalço e sem colarinho, viaja tentando controlar seu inconveniente mico-leão-dourado que não para quieto. No ponto de 100 réis, onde todos são obrigados a desembarcar, avistam Dolores Duran, cheia de charme, tentando convencer Ary Barroso a deixá-la fazer uma nova letra para o samba-canção “No Rancho Fundo”. Caso ele caia nesta cantada, Lamartine Babo vai ficar furioso.
Na subida do morro de Mangueira, após uns breques com um malandro que mexeu com a sua nega, Moreira da Silva se dirige para os estúdios da gravadora Copacabana só para ouvir o alardeado “dó de peito” do jovem cantor João Gilberto, que dizem imitar Orlando Silva.
Depois que o Visconde de Rio Branco, o Presidente Vargas e o Marquês de Sapucaí viram passar a turma das escolas na Praça XI, mandam avisar “Pelo telefone” ao Zé Pereira que o tambor está liberado para ser tocado na antessala do Odeon junto ao piano de Nazareth.
Ao som do samba, Noel de Medeiros Rosa sobe a igreja da Penha de joelhos, bebe nos cabarés da Lapa, passa pelas casas de amores urgentes no Mangue, canta o morro do Salgueiro que, aliás, “já exprime dois terços do Rio de Janeiro” e termina seu passeio nas areias de Ipanema vendo “o pato” na orla da zona sul carioca. Aproveita para dar um pulo no apartamento de Nara Leão e ouvir uma bossa muito diferente da que ele inventou.
Tom Jobim, de rosto colado com Vinicius, dança embalado por Copacabana, a princesinha do mar, na voz de Dick Farney. Enquanto isso, o síndico da Tijuca, Tim Maia, ao lado de Imperial, assiste na TV ao programa Jovem Guarda com Roberto Carlos amando loucamente a namoradinha de um amigo dele.
No alto das favelas, o “proibidão” corre solto com seu volume ensurdecedor. De um lado da corda que divide o salão, a linda lourinha brinca com o moleque indigesto ciceroneados por joujoux e balagandans e também pelo pirata da perna de pau. Do outro lado da corda, as cantoras do rádio pulam com a nega do cabelo duro acompanhada da chiquita bacana que é grau dez. O baile funk vibra no tamborzão do balancê entre Braguinha e Lalá. Aqui quem não dança pega na criança, segura a chupeta e perde o Cordão da Bola Preta. Os que seguem o cordão, cobertos de confete e serpentina, acabam se deleitando num chafariz no Centro da cidade. O banho é franco e os foliões matam sua sede naquelas fontes murmurantes. São as mesmas que nutrem a verde mata, movimentam cachoeiras e cascatas, num colorido sutil.
Por isso, é preciso admitir que não há nada igual, do Leme ao Pontal. A música inunda de poesia uma cidade esquadrinhada no corpo violão da “Garota de Ipanema”. Essa “Cidade Mulher”, hoje popozuda e glamorosa de algum MC ou DJ. Um rio musical que passa por nossa vida e o coração se deixa levar.
Assim nasce este livro. Um filete de água que se propõe a levar o leitor a desvendar e compreender melhor as fantasiosas narrativas desta introdução, sem pretensão alguma de esgotar o assunto. Histórias das canções, seus principais compositores e intérpretes, lendas e curiosidades. Uma pequena viagem pelos gêneros musicais com certidão de nascimento, lavrada ou não em cartório, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
A música popular brasileira nascida no Rio de Janeiro é fruto de uma mistura de raças, costumes e origens. Uma espetacular e coincidente união de tradições musicais nacionais e de fora do Brasil. Este caldeirão cultural só poderia ter acontecido aqui, lugar onde o Cristo Redentor, de braços abertos sobre a Guanabara, se veste de índio, desfilando no Cacique de Ramos. E num porre de felicidade no Bafo da Onça, batiza, por decreto assinado com lápis de cor: Cidade Maravilhosa!.
SERVIÇO:
GEOGRAFIA DA MÚSICA CARIOCA, coquetel de lançamento
QUANDO: 09 de abril (quinta-feira), a partir das 19h
ONDE: Teatro Municipal de Niterói – Sala Carlos Couto
Endereço: Rua Quinze de Novembro, 35, Centro, Niterói/ RJ
QUANTO: Entrada franca. O livro será vendido por R$ 34
ATRAÇÃO: Roda de choro com o grupo “Rio Trio Instrumental”
ENTRADA FRANCA
Informações: (21) 2620-1624