Exposição “Sudário” no MAC - artista Carlos Vergara A definição de Sudário é um pano que antigamente se usava para limpar o suor. O mais célebre é o sudário de Turim – uma relíquia cristã que supostamente teria envolvido o corpo de Jesus Cristo.

Sudário é o título da exposição do artista Carlos Vergara, com artista Carlos Vergara, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, cuja abertura aconteceu no sábado, dia 14 de dezembro, e ficará em cartaz até 23 de fevereiro de 2014. Embora não haja propriamente uma relação religiosa neste contexto, é possível estabelecer relações entre este pano, que foi substituído posteriormente pelo lenço, com a ideia do homem andarilho que, ao se colocar em movimento, está aberto às descobertas que ultrapassam a ordem do visível.

Segundo o curador da mostra: “o nome Sudário proposto pelo artista reflete sua busca e vontade de potência de imprimir por imersão a presença ou memória ativa do sagrado sobre a matéria, o pó e as ervas de um solo histórico por onde a humanidade se curvou no seu destino solidário. Nestas viagens os lenços se tornaram coletores ou sondagens arqueológicas de instan(cias) (tes) da cartografia de uma consciência nômade do artista fazendo contato direto com as terras marcadas pela odisséia humana. Nesta exposição já não existem desenhos, pinturas ou representação decorativa de uma realidade visível, mas sim, uma impressão cega de totalidades inacabadas contadas nos próprios grãos da imensidão humana”.
Utilizando uma prática já presente em sua obra, a monotipia, Carlos Vergara imprime em lenços vestígios dos diversos territórios por onde passou ao longo de sua carreira. Em “Sudário”, serão apresentadas obras realizadas em lugares como a Índia, a Capadócia, o Cazaquistão, Londres, Pantanal, São Miguel das Missões e Salvador.

Além dos lenços, a exposição é composta por pinturas, fotografias trabalhadas em 3D real e virtual, fotografias, monotipias em grande formato, vídeo e instalações. No pátio do museu, serão montadas cerca de 30 esculturas do projeto “Liberdade” realizadas com fotografias e portas gradeadas das celas recolhidas nos escombros do Complexo Penitenciário da Frei Caneca, Rio de Janeiro, em 2011.

A exposição do Vergara será deflagradora da “Farmácia Baldia da Boa Viagem”, como um processo especial extra-muros, envolvendo cooperação entre o Projeto Arte Ação Ambiental do MAC – a Comunidade do Morro do Palácio –, o programa Médico de Família da Fundação Municipal de Saúde, o Departamento de Arte e o Instituto de Saúde na Comunidade da UFF. A “Farmácia Baldia” foi realizada pela primeira vez no Arte Cidade 3, em São Paulo. Na Boa Viagem, esta obra territorial colaborativa se amplia como uma escultura de ação ambiental a partir do mapa das espécies de ervas medicinais que florescem no entorno do Museu. Cada erva identificada receberá uma bandeira de cor diferente. Um programa de atividade será desenvolvido no Módulo de Ação Comunitária, Maquinho, em frente ao MAC na comunidade Morro do Palácio (também desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer).

A exposição aborda, portanto, uma das particularidades fundamentais na produção de Carlos Vergara: uma prática artística prioritariamente realizada pela impressão de vestígios que se dá pela poética do deslocamento e de apropriações dos lugares visitados. “Isso é possível pela minha origem com a condição de transitoriedade, sem deixar de considerar as relações interpessoais construídas no processo, as quais se tornaram importantes no encadeamento da minha poética”, explica Vergara.

Ao longo dessa poética do deslocamento e por mais de cinco décadas de vida artística, Carlos Vergara acumulou experiências e uma intensa pesquisa em materiais e técnicas de trabalho. Uma parte dessa entrega à experimentação, onde o artista realiza apropriações da transferência de imagens para o corpo do trabalho, o público poderá conhecer nesta mostra. “Quero que o espectador experimente o invisível através do visível. Quando fragmentos de lugares são deslocados para o âmbito do museu, outras possibilidades de significados se constroem”, explica Carlos Vergara, que deixa, ainda, algumas perguntas no ar: “Como partilhar o espanto, a curiosidade, a admiração, o conhecimento, a ignorância, o medo, a estupefação frente ao sagrado e os vestígios da aventura humana nos seus lugares? Como trazer isso embrulhado num lenço?” A mostra é um convite à viagem e à imaginação.

“Uma importante dimensão simbólica se torna latente nas diferentes obras desta mostra que expressa um sentido de catedrais, hospitais, prisões e, essencialmente, um museu sem parede, como visão de uma utopia sem fronteiras do acontecer solidário de viver juntos. Assim visitamos catedrais sem parede de São Miguel à Capadócia, o sistema penitenciário da Frei Caneca, também sem parede. Desta forma, a Farmácia Baldia da Boa Viagem é também uma visão de saúde e saberes sem parede, fora dos hospitais. O Sudário é uma grande mostra que também territorializa a solidariedade e afetos do sentido da arte e do museu sem paredes. Afinal, a arte existe para produzir pensamentos. Os museus existem sem paredes para produzir vozes e memórias futuras”, finaliza Luiz Guilherme Vergara.

Serviço:

  • Exposição “Sudário”, do artista Carlos Vergara
  • Curadoria de Luiz Guilherme Vergara
  • Em cartaz até 23 de fevereiro de 2014
  • MAC de Niterói – pátio, salão principal e varanda
  • Mirante da Boa Viagem sem número – Niterói
  • Horário de visitação: de terça a domingo, das 10h às 18h
  • Ingressos a R$10,00
  • Estudantes, professores e pessoas acima de 60 anos pagam meia (R$5,00)
  • Entrada gratuita para estudantes da rede pública (ensino médio), crianças abaixo de 7 anos, portadores de necessidades especiais e moradores ou nascidos em Niterói
  • Entrada gratuita também às quartas-feiras
  • Obs.: a bilheteria encerra suas atividades 15 minutos antes do horário de fechamento do museu.
  • Informações: 2620-2400 ou 2620-2481
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