O centenário salão do Clube Rio Cricket foi o local escolhido para o lançamento do livro Toca o barco – Histórias de Ricardo Boechat contadas por quem conviveu e trabalhou com ele, da editora Máquina de Livros. A noite teve concerto da Orquestra de Cordas da Grota, e Dona Mercedes representou o filho autografando os livros.

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Nascido na Argentina, Boechat mudou-se pequeno para Niterói onde viveu com a família em São Francisco até largar o Centro Educacional e ir para o Diário de Notícias onde tudo começou. Foi em 1969. Manteve uma relação de profunda e incendiária paixão e amor por Niterói, em especial por São Francisco, o seu bairro.

O jornalista Gilson Monteiro – que foi um dos melhores e mais queridos amigos do nosso querido Boechat -, convidou a mãe dele, Dona Mercedes, para representar o filho e autografar os livros. Emocionada com o convite, ela esteve no Rio Cricket abraçando a todos.

A noite teve concerto da Orquestra de Cordas da Grota e não poderia deixar de fora a paixão maior do Boechat: dezenas de bolas alegraram o ambiente. Apesar da dura perda,foi uma homenagem positiva, pra cima, a cara do homenageado. Foram distribuídos, também, cartões com uma charge feita por Chico Caruso, como uma lembrança da noite.

Com organização e edição de Bruno Thys e Luiz André Alzer, o livro traz histórias e bastidores fascinantes contados por 32 colegas que trabalharam, conviveram, sofreram e se divertiram com o Boechat, que morreu em fevereiro.

Entre outros, estão: Gilson Monteiro, Ana Cláudia Guimarães, José Simão, Ancelmo Gois, Datena, Leilane Neubarth, Fernando Mitre, Gilda Mattoso, Joaquim Ferreira dos Santos, Milton Neves, Angela de Rego Monteiro, Luiz Megale, Aluizio Maranhão, Rodolfo Schneider, Flávio Pinheiro, Telma Alvarenga. Também estou entre os convidados. O livro traz ainda charges de Chico Caruso, Aroeira, Cláudio Duarte e André Hippertt, e um perfil com a trajetória de Boechat desde o primeiro emprego no “Diário de Notícias”, em 1969.

Os textos são emocionados, mas com muito humor mergulham na essência de Ricardo Boechat. Gilson Monteiro lembra que “ele não se conformava com a supressão do “Saco” de São Francisco, feita por uma lei municipal que ignorava a referência ao acidente geográfico que dava nome ao bairro. Boechat só se referia ao seu bairro como antigamente: Saco de São Francisco. E acrescentava existir ali a mais bela enseada e pôr do sol do mundo”.

A também niteroiense Ana Cláudia Guimarães, jornalista que trabalhou anos com o Boechat, conta que “ele nunca aceitou um ´não consegui apurar”. Dizia: ´quero notícia boa. Se você tiver uma notícia contra a minha mãe (a querida Dona Mercedes), vou publicar. Você tem que aprender que é jornalista e, se tiver uma boa informação nas mãos, mesmo que seja contra a sua mãe, tem obrigação de publicar`.

O jornalista e cronista Joaquim Ferreira dos Santos lembra que “na primeira vez que eu vi o Ricardo Boechat ele já estava como estaria para o resto de sua gloriosa carreira jornalística – acelerado, já chutando sombra, o balde, o que estivesse pela frente. Não tirava onda, não posava, não queria ser intelectual. Orgulhava-se do rótulo de jornalista. Sua passagem pela Rádio BandNews é a prova disso – dava o número do celular para o ouvinte que quisesse telefonar e passar alguma notícia.”

Cada um dos 32 jornalistas que escrevem no livro Toca o barco – Histórias de Ricardo Boechat contadas por quem conviveu e trabalhou com ele tem várias e até bizarras histórias.

Leilane Neubarth, que trabalhou com ele no “Bom dia Brasil” da Rede Globo, entre 1994 e 2001, ri quando lembra que, certa vez, “ele disse no ar que em vez de quatro ou cinco notas, só daria duas porque estava incomodado com a cor de sua gravata. Ele nos deu tchau e foi embora. E ainda teve o dia em que saiu de cueca pelos corredores! Falou que estava fugindo do terno horroroso que as camareiras tinham escolhido”.

Em uma nota que abre o livro, os editores Bruno Thys e Luiz André Alzer escrevem que “embora escrito por corações e mentes marcados por admiração e saudade, entre os objetivos deste livro não consta o da beatificação de Boechat – nem os amigos reunidos neste barco fariam essa maldade. Uma de suas virtudes era reconhecer e falar abertamente de suas imperfeições. Se já uma outra intenção nas próximas páginas é a de torná-lo útil aos atuais e futuros colegas jornalistas e à sociedade em geral. Num momento em que a verdade está sob fogo cerrado, duvidar, apurar, questionar, criticar, revelar e denunciar – atributos essenciais da atividade que Boechat tão bem desempenhou por meio século – revestem-se de importância ainda maior.”

Texto: Luiz Antonio Mello

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